QUERO SER PADRE!! O QUE FAÇO???
QUERO SER PADRE MISSIONÁRIO
O caminho de discernimento vocacional é
feito por menos gente, mas a percentagem de seminaristas que chegam a
ser ordenados é igual ou superior à que se registava há umas décadas.
Vivemos de facto uma crise de vocações, ou conseguimos separar melhor o
trigo do joio? Quais as motivações que levam os jovens ao seminário hoje
em dia e de que forma se preparam estes jovens para discernir sobre o
melhor caminhdisponíveis para caminharem com Ele a
espalhar a palavra do Pai. Mensageiros da Boa Nova, foram enviados a
todos os cantos da terra a anunciar o que Jesus lhes tinha pedido.
A Panus do sacerdote. Dois mil anos depois, diz-se que esta missão está em crise, por falta de pessoas que queiram aderir a ela. Há menos pessoas a entrar nos seminários, que se tornaram edifícios grandes demais para a realidade, e a ideia comum à sociedade é que faltam padres. No entanto, o Pe. João Alves não concorda com esta ideia.
Reitor do Seminário Menor de Santa Joana Princesa, em Aveiro, o sacerdote de 33 anos considera que hoje há mais qualidade de seminaristas que há umas décadas atrás. «Esta é uma crise ilusória. Este ano o padre que faz 50 anos de sacerdócio em Aveiro foi ordenado sozinho há 50 anos. Vamos ver os registos do seminário, e em anos em que entravam 50, eram 2 ou 3 ordenados, pouco mais, e hoje de grupos com 8 ou 9, podemos ordenar 4 ou 5, apesar de podermos estar cinco anos sem ordenar ninguém, por exemplo», refere.
Estamos então a separar o trigo do joio? «Hoje em dia, são mais aqueles a quem eu digo que não do que os que digo que sim aquando da admissão no seminário, porque é muito comum chegarem aqui pessoas que querem ser padres, e eu não percebo de onde vem essa motivação: não vai à missa, não pertence a nenhum movimento forte, e se não tomamos cuidado, se aceitamos toda a gente, podemos entrar por caminhos perigosos», defende o Pe. João Alves.
Por caminhos certos parece estar a caminhar o Daniel, que concluiu este ano o 11.º ano e está no seminário menor há dois anos, depois de ter feito o percurso do pré-seminário. «Estava no 7.º ano da escola quando fui interpelado para vir ao encontro dos candidatos. Disseram-me que era um dia de jogos e atividades, com futebol, e eu quis logo vir. Depois continuei, aceitando a proposta de vir conhecer o seminário e participar nuns encontros mensais que havia durante o meu 7.º e 8.º ano da escola. Nessa altura fizeram-me a proposta de continuar e eu aceitei, e entrei para o pré-seminário dos mais velhos, com encontros mais regulares e estágios, períodos nas férias escolares em que vínhamos cá ao seminário passar uns dias mais seguidos. Fiz o estágio de verão e entrei para o seminário menor», conta o jovem de 17 anos, natural da cidade de Aveiro.
O chamamento
A ideia de ser padre não fervilhou de imediato na sua jovem cabeça de 12 anos, mais preocupada com jogos de futebol e coisas várias, mas o chamamento apareceu. «Senti-me bem aqui e pus sempre a hipótese de poder vir a ser padre. Claro que com 13 ou 14 anos era apenas uma vaga ideia, vinha mais pelas atividades eiam si. Entretanto, isto começou a ficar mais sério, e houve um momento em que senti umas pulsões e foi aí que me comecei a interpelar mais "o que é que eu estou aqui verdadeiramente a fazer?" e comecei a pensar que ser padre poder ser mesmo para mim», revela.
Nem sempre este chamamento acontece em tenra idade. Aliás, o Pe. João afirma que a Igreja tem de repensar a sua abordagem. «Penso que, sem negar a hipótese do pré-seminário, de um modo geral, a nossa pastoral juvenil começa a dar alguns passos de uma consciência vocacional, mas a nossa pastoral universitária tem pouco ainda esta consciência do que pode promover, e isso é uma crítica que faço à Igreja em Portugal, pois penso que estamos um pouco áridos em propostas para estas idades e para estas situações. Ainda não nos convencemos que os jovens nesta altura, por tantas circunstâncias da vida, e até por falta de respostas do mundo de emprego, refletem seriamente sobre estas dimensões», defende o Pe. João.
Em Aveiro são, aliás, muitos os que chegam sem terem feito o percurso de pré-seminário ou de seminário menor. «Dos nove seminaristas maiores que temos, cerca de metade chegou com cursos universitários já feitos. Há muitos jovens a quem foi lançada a semente há muitos anos, e que só agora, fruto de contextos de vida e eclesiais, acabam por só agora pôr a questão da opção sacerdotal, pelo que é preciso estar atento a estas pessoas», alerta o reitor.
Fazemos uns quilómetros por dentro da bela cidade de Aveiro até ao seminário dos Dehonianos na Esgueira, para encontrarmos Joaquim Costa, de 21 anos. «O meu primeiro contacto com os Dehonianos foi numa aula de Moral, no 6.º ano, através de um padre que lá foi à aula falar sobre a congregação e o seminário, e lançava o desafio aos rapazes e às raparigas para fazerem a experiência de um encontro no seminário ou num convento, o chamado pré-seminário. Isto foi uma janela que se abriu, eu não estava à espera, nunca me achei especial para ser escolhido para uma tarefa destas, foi uma dádiva, e eu fiquei tão estupefacto que aderi com bastante alegria à proposta de entrar no seminário», conta.
A alegria inicial deu lugar a uma reflexão ponderada quando chegou a altura de mudar de seminário. «Quando chegámos ao 9.º ano, tomei a minha primeira grande decisão, pois fomos convidados a mudar de seminário. Eu estava em Rio Tinto, no Porto, relativamente próximo de casa, e fomos convidados a ir para Coimbra, para o seminário onde faríamos o secundário. Tive de me confrontar comigo próprio, perceber as minhas motivações, e de facto passando essa alegria inicial, ela foi substituída pela experiência de grupo e ali tive de me confrontar com as questões "porque é que quero andar aqui? Isto de ser padre diz-me alguma coisa?" e foi aí que começou a surgir este horizonte do sacerdócio.
Foi nesse ano também que se deu uma purificação das motivações, e aquilo que parecia mais exterior e imediato deu lugar a algo de mais profundo, uma experiência que tive com Deus, passei a ter métodos de oração mais organizados, estruturados, e foi isso que surgiu, esse horizonte do sacerdócio, este chamamento que me permitiu encarar o acaso como uma dádiva.»
As dúvidas
A opção pela vocação sacerdotal não é fácil de tomar, e Joaquim Costa viu-se confrontado com muitas questões. «Quando fiz o 12.º ano, as aulas eram na escola pública», conta. Junto de outros rapazes e raparigas, tudo foi questionado. «Houve vários confrontos: num primeiro momento, o facto de sermos seminaristas, diferentes de todos os outros. Depois o contacto com o sexo oposto, que também foi marcante. Se no início havia alguma apreensão em nos aproximarmos, quando nos integrámos no grupo notei que muitos começaram a manifestar um grande sentimento de apreço para connosco, que éramos jovens que tinham uma caminhada diferente, que se regiam por valores diferentes», conta. Esta foi também uma experiência que ajudou o Joaquim a crescer na vocação. «Se até então estávamos protegidos numa espécie de estufa que nos protegia das adversidades, aí estávamos expostos a tudo, o que nos permitiu crescer e amadurecer. Consegui amadurecer a vocação no meio de tantas outras vocações, tantos outros ideais. Às vezes podemos ser induzidos a seguir com o rebanho, e não tomamos decisões nossas, e por isso isto foi bom para purificar as minhas motivações», explica o jovem seminarista.
Poder vir a ser sacerdote é uma hipótese no futuro do Joaquim e do Daniel, hipótese que deverão confirmar daqui a uns tempos. Apesar de ser apenas uma hipótese, ambos sabem bem o que implica a vocação sacerdotal. «Eu encaro a vocação como uma escolha de carreira igual a tantas outras, com o acréscimo de servirmos a Deus de uma forma mais próxima e visível», diz o Daniel. O João, por seu lado, define o sacerdote como «alguém que se sente chamado por Deus e que se coloca no serviço de Deus e da Igreja, entregando-se em primeiro lugar a Deus e colocando-se ao serviço dos irmãos nos diferentes serviços da Igreja».
Escolher ser sacerdote não é, no entanto, fácil nos dias de hoje e na sociedade contemporânea. «O grande desafio do sacerdote é ser sinal. Estar no mundo sem ser do mundo, remeter para algo que nos espera. Isso vê-se pela profissão dos votos. Numa sociedade em que a sexualidade é banalizada, em que somos convidados a ter o maior número de bens possíveis, eu acho que através dos votos o religioso é convidado a ser sinal de desprendimento, alguém que não se deixou agrilhoar aos bens materiais, e que colocou a sua esperança em algo que o ultrapassa, que é sobrenatural, e que vai muito para além daquilo que ele é», defende o Joaquim.
Este é um desafio que não se ultrapassa sem «coragem». «Para abraçar a vida religiosa, para se ser sacerdote, é preciso uma grande coragem e uma grande determinação pessoal. Não depende de nós, depende de Deus. É Ele quem nos chama, quem nos confirma, é Ele quem nos dá a força para continuar, independentemente das nossas limitações e fragilidades. Santo Agostinho dizia que «Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos», sempre com a confiança de que se fizermos a nossa parte, Deus faz a Sua parte», confia o Joaquim.
A Panus do sacerdote. Dois mil anos depois, diz-se que esta missão está em crise, por falta de pessoas que queiram aderir a ela. Há menos pessoas a entrar nos seminários, que se tornaram edifícios grandes demais para a realidade, e a ideia comum à sociedade é que faltam padres. No entanto, o Pe. João Alves não concorda com esta ideia.
Reitor do Seminário Menor de Santa Joana Princesa, em Aveiro, o sacerdote de 33 anos considera que hoje há mais qualidade de seminaristas que há umas décadas atrás. «Esta é uma crise ilusória. Este ano o padre que faz 50 anos de sacerdócio em Aveiro foi ordenado sozinho há 50 anos. Vamos ver os registos do seminário, e em anos em que entravam 50, eram 2 ou 3 ordenados, pouco mais, e hoje de grupos com 8 ou 9, podemos ordenar 4 ou 5, apesar de podermos estar cinco anos sem ordenar ninguém, por exemplo», refere.
Estamos então a separar o trigo do joio? «Hoje em dia, são mais aqueles a quem eu digo que não do que os que digo que sim aquando da admissão no seminário, porque é muito comum chegarem aqui pessoas que querem ser padres, e eu não percebo de onde vem essa motivação: não vai à missa, não pertence a nenhum movimento forte, e se não tomamos cuidado, se aceitamos toda a gente, podemos entrar por caminhos perigosos», defende o Pe. João Alves.
Por caminhos certos parece estar a caminhar o Daniel, que concluiu este ano o 11.º ano e está no seminário menor há dois anos, depois de ter feito o percurso do pré-seminário. «Estava no 7.º ano da escola quando fui interpelado para vir ao encontro dos candidatos. Disseram-me que era um dia de jogos e atividades, com futebol, e eu quis logo vir. Depois continuei, aceitando a proposta de vir conhecer o seminário e participar nuns encontros mensais que havia durante o meu 7.º e 8.º ano da escola. Nessa altura fizeram-me a proposta de continuar e eu aceitei, e entrei para o pré-seminário dos mais velhos, com encontros mais regulares e estágios, períodos nas férias escolares em que vínhamos cá ao seminário passar uns dias mais seguidos. Fiz o estágio de verão e entrei para o seminário menor», conta o jovem de 17 anos, natural da cidade de Aveiro.
O chamamento
A ideia de ser padre não fervilhou de imediato na sua jovem cabeça de 12 anos, mais preocupada com jogos de futebol e coisas várias, mas o chamamento apareceu. «Senti-me bem aqui e pus sempre a hipótese de poder vir a ser padre. Claro que com 13 ou 14 anos era apenas uma vaga ideia, vinha mais pelas atividades eiam si. Entretanto, isto começou a ficar mais sério, e houve um momento em que senti umas pulsões e foi aí que me comecei a interpelar mais "o que é que eu estou aqui verdadeiramente a fazer?" e comecei a pensar que ser padre poder ser mesmo para mim», revela.
Nem sempre este chamamento acontece em tenra idade. Aliás, o Pe. João afirma que a Igreja tem de repensar a sua abordagem. «Penso que, sem negar a hipótese do pré-seminário, de um modo geral, a nossa pastoral juvenil começa a dar alguns passos de uma consciência vocacional, mas a nossa pastoral universitária tem pouco ainda esta consciência do que pode promover, e isso é uma crítica que faço à Igreja em Portugal, pois penso que estamos um pouco áridos em propostas para estas idades e para estas situações. Ainda não nos convencemos que os jovens nesta altura, por tantas circunstâncias da vida, e até por falta de respostas do mundo de emprego, refletem seriamente sobre estas dimensões», defende o Pe. João.
Em Aveiro são, aliás, muitos os que chegam sem terem feito o percurso de pré-seminário ou de seminário menor. «Dos nove seminaristas maiores que temos, cerca de metade chegou com cursos universitários já feitos. Há muitos jovens a quem foi lançada a semente há muitos anos, e que só agora, fruto de contextos de vida e eclesiais, acabam por só agora pôr a questão da opção sacerdotal, pelo que é preciso estar atento a estas pessoas», alerta o reitor.
Fazemos uns quilómetros por dentro da bela cidade de Aveiro até ao seminário dos Dehonianos na Esgueira, para encontrarmos Joaquim Costa, de 21 anos. «O meu primeiro contacto com os Dehonianos foi numa aula de Moral, no 6.º ano, através de um padre que lá foi à aula falar sobre a congregação e o seminário, e lançava o desafio aos rapazes e às raparigas para fazerem a experiência de um encontro no seminário ou num convento, o chamado pré-seminário. Isto foi uma janela que se abriu, eu não estava à espera, nunca me achei especial para ser escolhido para uma tarefa destas, foi uma dádiva, e eu fiquei tão estupefacto que aderi com bastante alegria à proposta de entrar no seminário», conta.
A alegria inicial deu lugar a uma reflexão ponderada quando chegou a altura de mudar de seminário. «Quando chegámos ao 9.º ano, tomei a minha primeira grande decisão, pois fomos convidados a mudar de seminário. Eu estava em Rio Tinto, no Porto, relativamente próximo de casa, e fomos convidados a ir para Coimbra, para o seminário onde faríamos o secundário. Tive de me confrontar comigo próprio, perceber as minhas motivações, e de facto passando essa alegria inicial, ela foi substituída pela experiência de grupo e ali tive de me confrontar com as questões "porque é que quero andar aqui? Isto de ser padre diz-me alguma coisa?" e foi aí que começou a surgir este horizonte do sacerdócio.
Foi nesse ano também que se deu uma purificação das motivações, e aquilo que parecia mais exterior e imediato deu lugar a algo de mais profundo, uma experiência que tive com Deus, passei a ter métodos de oração mais organizados, estruturados, e foi isso que surgiu, esse horizonte do sacerdócio, este chamamento que me permitiu encarar o acaso como uma dádiva.»
As dúvidas
A opção pela vocação sacerdotal não é fácil de tomar, e Joaquim Costa viu-se confrontado com muitas questões. «Quando fiz o 12.º ano, as aulas eram na escola pública», conta. Junto de outros rapazes e raparigas, tudo foi questionado. «Houve vários confrontos: num primeiro momento, o facto de sermos seminaristas, diferentes de todos os outros. Depois o contacto com o sexo oposto, que também foi marcante. Se no início havia alguma apreensão em nos aproximarmos, quando nos integrámos no grupo notei que muitos começaram a manifestar um grande sentimento de apreço para connosco, que éramos jovens que tinham uma caminhada diferente, que se regiam por valores diferentes», conta. Esta foi também uma experiência que ajudou o Joaquim a crescer na vocação. «Se até então estávamos protegidos numa espécie de estufa que nos protegia das adversidades, aí estávamos expostos a tudo, o que nos permitiu crescer e amadurecer. Consegui amadurecer a vocação no meio de tantas outras vocações, tantos outros ideais. Às vezes podemos ser induzidos a seguir com o rebanho, e não tomamos decisões nossas, e por isso isto foi bom para purificar as minhas motivações», explica o jovem seminarista.
Poder vir a ser sacerdote é uma hipótese no futuro do Joaquim e do Daniel, hipótese que deverão confirmar daqui a uns tempos. Apesar de ser apenas uma hipótese, ambos sabem bem o que implica a vocação sacerdotal. «Eu encaro a vocação como uma escolha de carreira igual a tantas outras, com o acréscimo de servirmos a Deus de uma forma mais próxima e visível», diz o Daniel. O João, por seu lado, define o sacerdote como «alguém que se sente chamado por Deus e que se coloca no serviço de Deus e da Igreja, entregando-se em primeiro lugar a Deus e colocando-se ao serviço dos irmãos nos diferentes serviços da Igreja».
Escolher ser sacerdote não é, no entanto, fácil nos dias de hoje e na sociedade contemporânea. «O grande desafio do sacerdote é ser sinal. Estar no mundo sem ser do mundo, remeter para algo que nos espera. Isso vê-se pela profissão dos votos. Numa sociedade em que a sexualidade é banalizada, em que somos convidados a ter o maior número de bens possíveis, eu acho que através dos votos o religioso é convidado a ser sinal de desprendimento, alguém que não se deixou agrilhoar aos bens materiais, e que colocou a sua esperança em algo que o ultrapassa, que é sobrenatural, e que vai muito para além daquilo que ele é», defende o Joaquim.
Este é um desafio que não se ultrapassa sem «coragem». «Para abraçar a vida religiosa, para se ser sacerdote, é preciso uma grande coragem e uma grande determinação pessoal. Não depende de nós, depende de Deus. É Ele quem nos chama, quem nos confirma, é Ele quem nos dá a força para continuar, independentemente das nossas limitações e fragilidades. Santo Agostinho dizia que «Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos», sempre com a confiança de que se fizermos a nossa parte, Deus faz a Sua parte», confia o Joaquim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário